domingo, 25 de janeiro de 2015

Transcrição: A veneração às almas do Purgatório: um contraponto entre Portugal e a Colônia

1. A Devoção às almas do Purgatório
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Entre os lusitanos a devoção às almas do Purgatório contou com uma vitalidade ímpar. Tal pujança foi exteriorizada através da confecção de altares das almas nos templos do clero regular e secular, e principalmente através da edificação das “alminhas”, isto é, de pequenos oratórios levantados isoladamente ao ar livre e nas encruzilhadas ou, ainda, incrustados nas residências.


Origem da foto: http://migre.me/6iMJW
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2. As Irmandades de São Miguel e Almas na Capitania das Minas No cômputo geral das irmandades do setecentos mineiro, São Miguel e Almas ocupa posição de destaque, superada apenas pelas irmandades do Santíssimo Sacramento e pelas do Rosário dos Pretos 8. Na mentalidade religiosa dos portugueses, o Arcanjo Miguel apresenta tradição bem remota, atraindo a veneração dos governantes, do clero regular e secular, dos leigos, do campo e da cidade. Por ocasião do Concilio Tridentino, o culto foi reavivado reiterando-se a devoção aos coros angélicos e às almas do Purgatório9. Na colônia divulgaram-se as deliberações tridentinas:
“(...) encomendamos muito que tratem desta devoção das Confrarias; e de servirem, e venerarem nellas aos Santos, principalmente á do Santíssimo, e do nome de Jesus, á de N. Senhora, e das Almas do Purgatório.., porque estas Confrarias he bem as haja em todas as Igrejas.” 10
3. A Portada do templo de São Miguel e Almas de Ouro Preto
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A portada das almas de Ouro Preto é atribuída a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e foi feita provavelmente após 1778, pois nesse ano lavrava-se a pedra para as janelas, o óculo, a cruz...17 Considerando o presente estilo, nitidamente barroco, o Aleijadinho e seus oficiais teriam elaborado esta obra antes da portada de São Francisco de Assis, de feição rococó 18. A solução dada à fachada de São Miguel é mais arcaica, semelhante ao frontispício da matriz de São João Batista, em Morro Grande, também atribuído ao artista (1763-1785). Na fachada franciscana não há arcaísmo algum, as formas muito leves se espraiam com harmonia dentro de uma concepção madura, plenamente rococó, o que leva a supor uma datação mais tardia para o projeto executado. O Purgatório da capela de São Miguel, tal como o de Dante Alighieri, situa-se em uma montanha, símbolo da ascensão espiritual, obtida formalmente através da suave ondulação da sobreporta. Nele, homens e mulheres, com feições tranqüilas e suaves, purificam-se sem externalizar aflição ou sofrimento. Trata-se sem dúvida do cárcere divino, onde o fogo pune, purifica e santifica19.
Fonte: http://migre.me/5sCXb
Nota: Baseando no trabalho da Dra. Adalgisa Arantes constante da transcrição de trechos adrede, relativamente ao “Estudo dos assuntos representados nas obras de artes, de suas fontes e de seu significado” em especial, no que se refere às almas do Purgatório voltado ao espaço de memória constituído por Minas Gerais setecentista. Possibilita afirmar que, se existe uma invocação consagrada, documentada enquanto vivencia e arte, por toda a extensão do Caminho Velho do Rio de Janeiro à Minas, bem como, no caminho dos Paulista, até os dias de hoje, é a devoção a São Miguel Arcanjo, o que resultará em lamentável equivoco histórico, a exclusão de Piquete de qualquer projeto voltado ao turismo religioso neste contexto de  valioso e histórico  e indiscutível espaço de memória.

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